Viajar sozinho. Um presente que você deve dar para si mesmo.
Se for para Minas Gerais, melhor ainda
Viajar é, sem dúvidas, uma das experiências mais enriquecedoras que podemos ter. Seja por diversão, para conhecer novos lugares ou para se desconectar da rotina, sempre existe algo a ser aprendido ou apreciado.
Depois de muitos anos alimentando o desejo e sonhando com a experiência de viajar sozinho, no último ano finalmente consegui fazer uma viagem nesse esquema.
Escolhi Minas Gerais como destino, passando por Belo Horizonte e Ouro Preto. BH já me era familiar, pois havia visitado a cidade em 2023 com Aécio para comemorar nosso aniversário de namoro. Desde a volta, falava a todo tempo o quanto tinha me encantado e sentia aquela ansiedade gostosa de querer voltar logo para lá.
Desta vez, decidi experimentar algo diferente e fiz o trajeto Vitória - BH de trem. Uma forma distinta de viajar pelo Brasil e um enorme privilégio estar tão próximo dessa possibilidade.
A viagem de trem: uma experiência única
Aqui já vale um adendo: a compra da passagem pode ser um pouco complexa. Se você pretende viajar dessa forma, recomendo tentar pelo celular (ainda não descobri o porquê de o site carregar somente via celular e, pelo computador, ser tão ruim) e com pelo menos 40 dias de antecedência.
Outro ponto importante de ressaltar é que sempre amei viajar por transporte terrestre. Já li ou ouvi em algum lugar que essa forma de deslocamento nos permite perceber melhor as mudanças ao redor, principalmente de clima e vegetação, ao contrário da rapidez de um avião. São propostas diferentes, mas ambas válidas. É importante lembrar que o trajeto também faz parte da viagem.
O trem parte às 7h tanto de Cariacica-ES quanto de BH, levando cerca de 14 horas para percorrer o trajeto completo, com um total de 30 paradas. A viagem é longa, mas extremamente confortável. O trem é climatizado, espaçoso e muito mais cômodo do que um ônibus. A paisagem ao longo do caminho é um verdadeiro espetáculo da natureza, nos lembrando das belezas que muitas vezes estão tão perto de nós. Durante o percurso, é possível caminhar entre os vagões, conversar, escrever, tirar fotos ou simplesmente relaxar e assistir à TV disponível.
Talvez minha conexão emocional com o trem venha da minha avó, que é ex-funcionária da Vale e melhor… sabiam que foi a primeira mulher no Brasil a conduzir uma locomotiva? Que chique,né?
Crescer ouvindo essa história adicionou um toque especial à experiência. Quem sabe um dia eu a conte por inteiro aqui?
De volta a Belo Horizonte
Após 14 horas de viagem, chegando por volta das 21h, é inevitável notar as diferenças culturais entre o ES e MG. Isso é perceptível até mesmo no tom de voz das pessoas ao redor. É muito bom estar em Minas!
Mesmo com todo o conforto, a viagem foi cansativa, mas ainda deu tempo de visitar o Mercado Novo para comer e beber algo antes de descansar para um dia cheio. BH me proporcionou experiências fantásticas. Visitei vários museus, minha parte favorita das viagens, e tive o privilégio de explorar inúmeras exposições, como de Clara Nunes, ciências naturais, políticas e até de arte contemporânea, além é claro, de poder aproveitar um monte das belezas que existem na própria cidade. O Mercado Novo foi parada obrigatória novamente para um almoço típico mineiro. A comida caseira e o atendimento acolhedor nos fazem sentir como se estivéssemos em casa. A experiência continuou imperdível na sobremesa quando fui visitar a Companhia Mineira de Picolé, onde um senhorzinho extremamente simpático passa horas contando histórias sobre cada sabor de picolé. Vale a visita pela história e pelas delícias!
Um dos momentos mais marcantes foi quando tentei ir a um mirante para assistir ao pôr do sol, mas o local estava fechado. Sem desistir, continuei subindo a cidade e, pela primeira vez na vida, vi o sol descendo tão depressa. Estava correndo contra o tempo, percebendo que a derrota era inevitável, parei onde estava mesmo, sem muita referência, e apenas contemplei aquela cena inesquecível.
Na manhã seguinte, fui ao famoso Café Palhares provar o icônico KAOL, acompanhado de um chopp da casa. Simplicidade que encanta: uma das melhores refeições da minha vida. Mas nem tudo são flores kkkkkk. Naquela tarde, tive o desprazer de visitar uma das piores exposições que já vi. A homenagem a Ziraldo foi, sem dúvida, o ponto mais baixo da viagem: cansativa, superficial e repleta de atividades monótonas, claramente voltadas para crianças. O que, por si só, não seria um problema, já que o Menino Maluquinho é um personagem infantil. No entanto, foi impossível não notar a decepção dos muitos adultos na faixa dos 20 a 30 anos, que esperavam uma experiência mais envolvente e foram completamente deixados de lado.
Mas a viagem não foi perdida. A exposição aconteceu no CBB, onde tive a chance de conhecer a incrível Encruzilhadas da Arte – uma mostra de arte afro-brasileira contemporânea, emocionante e profundamente tocante. As imagens falam por si só.
Para fechar o dia com chave de ouro, ainda pude assistir a uma belíssima peça de teatro sobre O Diário de Anne Frank, antes de descansar para o próximo destino: Ouro Preto.
Ouro Preto: um cenário histórico
Peguei um ônibus para Ouro Preto e, infelizmente, temos outro ponto baixo da viagem, simplesmente foi uma das piores viagens que fiz. O ônibus era apertado, quente e desconfortável, tornando 2h15min de viagem um tempo quase interminável. Mas valeu a pena. Ouro Preto encanta desde o primeiro passo. A cidade tem ares de cenário de Chocolate com Pimenta – um interior autêntico, sem medo de ser, repleto de história e orgulho. Viajar sozinho também tem muitas surpresas, e uma delas foi descobrir, por acaso, que a cidade estava lotada por um motivo especial. Já tinha notado a alta demanda por hospedagens, mas só entendi ao chegar: era o Festival de Inverno da cidade. Uma festa tradicional e que por sorte foi uma deliciosa coincidência, que me permitiu aproveitar o evento logo no primeiro dia.
Depois de uma noite revigorante, surpreendido pelos 9 graus do frio seco, acordei pronto para explorar ainda mais essa cidade fascinante. O dia começou com um café da manhã dos sonhos: pão de queijo e café mineiro (os melhores do mundo!), apreciados diante de uma vista de tirar o fôlego.
Por estar hospedado na parte baixa da cidade, enfrentei muitas, mas muitas escadas e ladeiras para conhecer tudo – e valeu cada passo. Ouro Preto é um museu a céu aberto, onde igrejas magníficas e a história do famoso e grande homenageado da cidade, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (péssimo apelido, aliás), se misturam à paisagem. Ouro Preto respira arte, seja nos museus renomados, nas exposições de estudantes e moradores ou nas próprias ruas, onde os artistas transformam cada canto em uma galeria viva. Sendo um dos grandes destaques da cidade. Dois em específico, me fizeram refletir sobre como tantos talentos demoram a ser reconhecidos – ou só recebem o devido valor após sua morte, como aconteceu com o próprio Antônio Francisco Lisboa.
O primeiro foi José Augusto, que encontrei ao lado da feira de antiguidades. Há mais de 10 anos, ele trabalha com pedra-sabão e cria suas peças ao vivo, personalizando desenhos para levar como lembrança. Entre um entalhe e outro, contou que recebeu o nome em homenagem a um cantor famoso dos anos 80. Fingi na hora que conhecia, mas fui pesquisar depois – e não é que as músicas são boas? kkkkk é uma sofrênciazinha bem gostosa. O que mais me marcou foi que José, com brilho nos olhos, repetiu várias vezes o quanto era feliz por fazer o que ama, principalmente pela oportunidade de conhecer tantas pessoas.
O segundo foi o Sr. Luís Miranda, que me abordou enquanto eu admirava a Igreja de São Francisco de Assis. Ele falou sobre a importância de presentear aqueles que amamos e, ali mesmo, pintou para mim, em um pedaço de azulejo, uma linda paisagem onde eu e minha avó aparecíamos admirando Ouro Preto. Contei que a cidade me lembrava muito dela, e ele me fez prometer que o presente chegaria até sua casa. Luís compartilhou que antes de se tornar pintor era guia turístico, mas se sentia pouco realizado. Um dia então, fez uma oração forte, pedindo um propósito e quase como um milagre, no dia seguinte, decidiu aprender (e aprendeu) a pintar em azulejos usando apenas os dedos e pedaços de papel. Hoje, mais de 15 anos depois, segue feliz, vivendo de sua arte.
A gastronomia de Ouro Preto merecia um capítulo ou um livro à parte. Cada prato foi um abraço quente e acolhedor, e o Xeque Mate – drink mineiro clássico – tem um gosto ainda mais especial por lá. Nos dias seguintes, tive tempo de mergulhar ainda mais na riqueza de Ouro Preto. Explorei as antigas minas de ouro, caminhei por museus repletos de história, visitei mais igrejas deslumbrantes e, a cada novo ponto da cidade, me encantava com a vista que parecia ficar ainda mais bonita. Os finais de tarde eram um espetáculo à parte – pores do sol intensos e coloridos que reuniam turistas e fotógrafos, todos disputando o melhor ângulo para registrar aquela pintura viva.
No fim do dia - e da viagem, voltei para minha hospedagem no melhor clima possível: saboreando um pastelzinho com caldo de cana, vendo mais um pôr-do-sol e revivendo cada momento especial que vivi até ali. E assim, voltei para casa – completamente diferente de quando saí, carregando não só lembranças incríveis, mas também histórias para contar e experiências que, sem dúvida, ficarão comigo para sempre.
MEU DEUS, revivi ouro preto com seu relato. amei amei amei!
ah minas é tudo! tenho muita vontade também de pegar o trem pra lá. bom saber que tem que ser feito com antecedencia, eu sempre imaginei uma cena bem dramática de mim mesma levantando da mesa e jogando tudo pro alto, chegando na estação e dizendo: por favor, passsagem do pŕoximo trem!!!! entrar e escrever um livro durante o percurso kkkkk